quinta-feira, 9 de junho de 2011

ENTREVISTA COM IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

TRAJETÓRIA – Escritor contou detalhes de sua carreira para reforçar a importância da leitura na formação do jovem e do cidadão

Ignácio de Loyola Brandão e
Itanhaém: um caso de amor antigo


Quem vê aquele senhor de ar sisudo nem desconfia que por trás daquele rosto se encontra um incrível contador de histórias, além de um dos maiores escritores que esse País produziu. Ignácio de Loyola Brandão, autor de clássicos como Não Verás País Nenhum e Zero, surpreende ao mostrar uma personalidade extremamente bem humorada, capaz de fazer plateias sorrirem com suas histórias hilárias retiradas do cotidiano. O escritor esteve em Itanhaém no dia 6, participando de um bate-papo aberto ao público na Biblioteca Municipal Poeta Paulo Bomfim, dentro do programa Viagem Literária, uma parceria da Prefeitura de Itanhaém com o Governo Estadual. E atendeu a imprensa para falar sobre Literatura e a produção cultural nacional. Segundo ele, é possível incentivar mais a leitura com a criação de mais bibliotecas. “Esses espaços serão redutos culturais onde a população pode ter acesso à cultura nacional”.
Imprensa – Esta é a sua terceira participação no programa Viagem Literária e a primeira visita em Itanhaém através dele. Que avaliação o senhor faz desse projeto?
Ignácio de Loyola Brandão – É difícil fazer um balanço, porque esses projetos são de longa duração. Estão investindo no futuro. O que acho fundamental é que fazendo isso você acaba conquistando uma parcela do público para a leitura. Por exemplo, se vierem 50 pessoas e cinco delas despertarem o interesse, já valeu a pena ter realizado a palestra. Ler é uma coisa muito especial. E o que nós, escritores, procuramos mostrar é que a literatura é um prazer. E a leitura é um prazer maior ainda.

Imprensa – Como o senhor avalia a atual produção literária no País?
Loyola Brandão – Vejo muitas coisas acontecendo de forma positiva. Há vários eventos se consolidando, como a Feira Literária de Paraty (FLIP), Ribeirão Preto promove uma feira literária, o Salão Literário do Piauí, o Salão de São Luis no Maranhão. Em agosto teremos a Jornada de Literatura Nacional de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, que reúne na plateia seis mil pessoas. É uma coisa fantástica, pois 15 mil crianças participam. É uma festa mesmo. Isso significa que teremos um futuro mais agradável para o livro e, consequentemente para a leitura.

Imprensa – Mas o livro ainda é caro para o público em geral. Como é possível reverter esse quadro?
Loyola Brandão – O livro ainda é caro porque as tiragens ainda não são grandes. Só com uma grande tiragem é que você consegue reduzir o seu preço. O que se espera no futuro é que, com todos esses eventos de pequeno e grande porte, o número de leitores possa aumentar. E com isso a tiragem tende a aumentar.

Imprensa – Em sua obra constam biografias, como a mais recente, da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Há planos para escrever novas biografias?
Loyola Brandão – Escrever o livro sobre a Ruth Cardoso foi um prazer enorme. Ela teve uma trajetória muito singular, pois se diferenciou das demais primeiras-damas, por ter ido de encontro ao povo e elaborado projetos sociais memoráveis. Mas escrevi também a biografia de Alexander Fleming, o criador da penicilina, e de Olavo Setúbal, que foi prefeito de São Paulo e o principal responsável pela expansão do Banco Itaú. Escrevi também a biografia do Santo Ignácio de Loyola Brandão, que inspirou meus pais a darem meu nome. E percebi que ele era um homem muito disciplinado, uma qualidade que curiosamente também tenho. No momento, não tenho nenhum projeto para uma nova biografia.

Imprensa – Ainda sobre sua obra, temos vários contos e crônicas, sendo que alguns deles direcionados ao público infanto-juvenil. O que é mais difícil escrever: a biografia ou o conto de ficção?
Loyola Brandão – A ficção é mais livre, pois posso inventar o que eu quiser. É fantasia, imaginação. Na biografia, eu tenho que colocar o que eu descobri sobre a personalidade. É um documento, no final das contas. Costumo dizer que a biografia coloca o escritor em uma camisa de força. Mas também dá um imenso prazer, porque a medida que você vai descobrindo a pessoa, ela vai se iluminando. Você aprende muito.

Imprensa – Houve uma renovação na literatura nacional?
Loyola Brandão – A literatura nunca parou. Isso é fato. A minha geração sucedeu a anterior. E hoje temos autores como Luiz Rufatto, Ivânia de Arruda, Adriana Lisboa, Rubens Figueiredo, jovens que estão na faixa dos 30 a 40 anos, que estão produzindo coisas muito boas. É uma literatura muito efervescente.

Imprensa – Que sugestão o senhor daria ao Governo Federal para incentivar a leitura?
Loyola Brandão – Eu acho que o Governo deveria encher esse País de bibliotecas. E encher as bibliotecas de livros. Eu mesmo fui formado lendo na biblioteca de Araraquara. Elas são um canal direto de acesso a literatura. E seria primordial patrocinar traduções dos autores brasileiros no exterior. Isso é fundamental. Todos os países fazem isso, menos o Brasil.

Imprensa – Para o público infanto-juvenil, é preciso ter um tipo de linguagem específica e segmentada?
Loyola Brandão – Acho essa história de literatura infanto-juvenil segmentada uma bobagem. Eu tinha 12 anos e já lia Jorge Amado. Eu escrevo com se estivesse escrevendo para qualquer um. Não se deve subestimar a inteligência de uma criança. Já escrevi cinco livros classificados como infanto-juvenis, mas que também podem ser lidos por adultos.

Imprensa – O senhor disse que tem uma relação de carinho com Itanhaém. Qual o motivo?
Loyola Brandão – Há 45 anos eu visitei Itanhaém com uma namorada, cuja relação eu guardo com carinho na minha memória. Então, a visão que tenho de Itanhaém é a de um amor. A Cidade para mim tem a cara do amor.


Fonte: Secretaria de Governo e Departamento de Comunicação Social

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